sábado, 29 de setembro de 2012

O PERDÃO

O perdão incondicional no mundo atual é muito raro. Além de não perdoar com facilidade as ofensas de parentes e amigos, encontramos impedimentos enormes para a sua prática no que se refere aos inimigos. O orgulho é de tal ordem que basta um familiar cometer um deslize qualquer para ficarmos furiosos. Em vez de desculpar a fragilidade moral do infeliz e procurar lhe dar apoio para suavizar as punhaladas do remorso, ficamos a atirar pedras. Pedras do desprezo, da indiferença, sem medir as consequências de tal atitude. Conta o escritor John Lageman um fato contemporâneo. Ocorreu com um ex-presidiário, que sofreu na alma a incompreensão e o abandono dos seus familiares, durante todo o tempo em que esteve recluso numa penitenciária. Os seus parentes o isolaram totalmente. Nenhum deles lhe escreveu sequer uma linha. Nunca foram visitá-lo na prisão durante a sua permanência lá. Tudo aconteceu a partir do momento em que o ex-¬presidiário, depois de conseguir a liberdade condicional, por bom comportamento, tomou o trem de retorno ao lar. Por uma coincidência que somente a Providência Divina explica, um amigo do diretor da penitenciária se sentou ao seu lado. Por ser uma pessoa sensível, identificou a inquietação e a ansiedade na fisionomia sofrida do companheiro de viagem e, com gentileza, lhe falou: O amigo parece muito angustiado! Não gostaria de conversar um pouco? Talvez pudesse diminuir o desconforto. O ex-detento deu um profundo suspiro e, constrangido, falou: Realmente, estou muito tenso. Estou voltando ao lar. Escrevi para minha família e pedi que colocasse uma fita branca na macieira existente nas imediações da estação, caso tivesse me perdoado o ato vergonhoso. Se não me quisessem de volta, não deveriam fazer nada. Então eu permanecerei no trem e rumarei para lugar incerto. O novo amigo verificou como sofria aquele homem. Ele sofreu uma dupla penalidade: a da sociedade que o segregou e a da família que o abandonou. Condoeu-se e se ofereceu para vigiar pela janela o aparecimento da árvore. A macieira que selaria o destino daquele homem. Dez minutos depois, colocou a mão no braço do ex¬-condenado e falou quase num sussurro: Lá está ela! E mais baixo ainda, disse: Não existe uma fita branca na macieira! Fez uma pausa, que parecia uma eternidade e falou novamente: ... A macieira está toda coberta de fitas brancas. A terapia do perdão dissipou, naquele exato momento, toda a amargura que havia envenenado por tanto tempo uma vida humana. O pobre homem reabilitado deixou que as lágrimas escorressem pelas faces, como a lavar todas as marcas da angústia que até então o atormentara. * * * A simbologia das fitas brancas do perdão incondicional deve ficar gravada em nossa mente. Deve nos lembrar sempre as palavras de Jesus: Aquele dentre vós que estiver sem pecado, atire a primeira pedra. Quem de nós não necessita de perdão? Quem já não errou, se equivocou, faliu? A própria reencarnação é, para cada um de nós, o perdão incondicional de Deus, a nos oferecer uma nova chance para o resgate dos débitos e retomada do caminho, do aprendizado sem fim. Redação do Momento Espírita, com base em conto publicado na revista Presença Espírita nº 155. Disponível no CD Momento Espírita, v. 2, ed. Fep.

NUNCA DESISTA DE SEUS SONHOS

Marcelo era filho de uma família pobre. Precisava trabalhar para ajudar nas despesas da casa. Marcelo foi vender picolés. Depois trabalhar em uma padaria. Ganhava dez reais por mês, que dava ao pai. Saindo da padaria, ele ia pescar. Os peixinhos que pegasse eram sempre importantes. Em casa, se comia peixe com farinha. Um dia, ele ouviu o anúncio de que ia se formar uma banda na cidade. Pensou que fosse uma banda dessas que tocam em bailes. Queria ser baterista. Mas o responsável tocava uma flautinha. Marcelo se apaixonou pela flauta. E quis se inscrever. O pai disse não. Marcelo descobriu então que o seu namoro com a flauta deveria ser às escondidas. A inscrição acabava às cinco horas. Hora em que ele estava na padaria, trabalhando. Quando saiu, correu tanto que caiu da bicicleta. Os peixes se espalharam e ele ficou todo ralado. Chegou com duas horas de atraso ao local da inscrição. O homem teve compaixão, vendo-o todo machucado e com tanta vontade de tocar flauta e o inscreveu. O garoto tinha onze anos. Só havia um problema: Marcelo não tinha flauta, que custava dez reais. Seu salário. Salário do qual ele não podia dispor. Precisava juntar dinheiro. Durante um ano juntou moedas perdidas de um centavo. Vivia olhando para o chão. Comprou uma flauta de plástico. Mas não podia estudar em casa, por causa do pai. À noite, ía para o alto de um cajueiro e estudava. Lá também a guardava a sua flauta. Até que uma noite de chuva, resolveu levar a flauta para casa, com medo que a água a estragasse. No dia seguinte, quando voltou da padaria, o pai o esperava. Queimou a flauta que encontrara e deu uma surra no garoto. Desistiu da flauta? Não! Ficou mais um ano juntando centavos até comprar outra. Aí ele arranjou uma aluna. Dez reais por mês. Outra aluna, mais dez reais. Logo, tinha nove alunas. Noventa reais. O pai viu que a flauta dava dinheiro e deixou de perseguir o menino. Um dia, Marcelo se propôs a ensinar flauta para crianças que não pudessem pagar. Aos 18 anos, Marcelo já formou uma orquestra de flautas na cidade de Aquiraz, a uma hora de Fortaleza, no Ceará. Seu sonho: formar outra orquestra de flautas, na cidade de Serpa. O problema? As crianças são muito pobres, não têm dinheiro para comprar flautas. Entretanto, isso não o detém. Sabe que conseguirá. Numa conversa entre amigos, Marcelo revelou outro sonho: ter uma flauta transversal. Mas ela custa muito caro. Quase dois mil reais. Bom, esse sonho já foi realizado. Uma professora lhe deu de presente a flauta. Ela possuía uma guardada em casa, numa caixa de veludo. Flauta que ninguém tocava. Hoje, Marcelo já está tocando com a sua flauta tão sonhada... *** Se tudo em volta se veste de escuridão e o dia claro já passou, substituído pela noite pavorosa do desalento, insiste um pouco mais. Não desistas com facilidade. Permita-te uma nova tentativa. Tenta outra vez e espera a ajuda de Deus. Vencerás. Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no cap. 5, parte 2, do livro Um céu numa flor silvestre, de Rubem Alves, ed. Verus e cap. 20 do livro Momentos de coragem, Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Franco, ed. Leal.

A GRANDE DIFERENÇA

Os alunos residentes estavam reunidos discutindo suas dificuldades. Todos eram unânimes em afirmar que o maior problema no hospital era o Dr. M. Ninguém gostava daquele médico que tinha a seus cuidados pacientes portadores de câncer. Ele era brilhante em seu trabalho, mas intolerável no trato pessoal. Era áspero, arrogante e nunca admitia que alguém falasse que um de seus pacientes iria morrer. A médica psiquiatra que a tudo escutava, inesperadamente falou: Não se pode ajudar uma outra pessoa sem gostar um pouquinho dela. Há alguém aqui que goste dele? Depois de muitas caretas, risos e gestos hostis, uma moça ergueu a mão hesitante. Era uma enfermeira. Vocês não conhecem esse homem, ela começou. Não conhecem a pessoa que ele é. Todas as noites, depois que todos os médicos já se retiraram, ele visita os pacientes. Começa no quarto mais distante do posto de enfermagem e vem seguindo, entrando de quarto em quarto. Quando entra no primeiro, parece seguro, confiante, de cabeça alta. Mas, de cada quarto que sai, suas costas vão se curvando mais. Quando sai do último quarto, está arrasado. Sem alegria, esperança ou satisfação por seu trabalho. O que eu mais desejaria é quando ele está assim triste, pousar minha mão no seu ombro, como uma amiga. Mas nunca o fiz porque sou só uma enfermeira e ele é o chefe do Departamento de Oncologia. Nos momentos seguintes, todos se uniram e insistiram para que ela se esforçasse e seguisse o impulso do seu coração. Aquele homem precisava de ajuda. Uma semana depois, reunidos novamente, a enfermeira entrou sorridente e disse: Consegui. Na sexta-feira anterior, ela vira o médico sair arrasado do plantão. Dois dos seus pacientes haviam morrido naquele dia. Aproximou-se dele e, inesperadamente, ele a levou para o seu consultório e desabafou. Ele falou como sonhava curar seus pacientes, enquanto os seus amigos, da mesma idade que ele, estavam constituindo família. Sua vida tinha sido aprender uma especialidade. Agora, ele ocupava uma posição que podia fazer a diferença para a vida dos enfermos. E, no entanto, todos eles morriam. Um após outro, todos morriam. Ele era um homem acabado, vencido. Quando ouviram essa história, os residentes se deram conta de como todos somos frágeis e necessitados de afeto. Também de como uma pessoa tem o poder extraordinário de curar outras, apenas tomando coragem e agindo sob o impulso do coração. Um ano depois, o Dr. M. era outro homem. Abriu o seu coração às pessoas e redescobriu as maravilhosas qualidades que possuía, o afeto e a compreensão que o haviam motivado a se tornar um médico. * * * Um gesto, uma atitude, um olhar podem mudar a vida de uma criatura. Pessoas ásperas, de trato rude, quase sempre estão ocultando as suas mágoas e pesares profundos. Por vezes, basta um pequeno toque para que elas abram o coração e demonstrem toda a sua fragilidade. E o que faz a grande diferença na vida de tais pessoas é a demonstração de afeto, que pode ser de um grande amor, de um amigo, de um irmão ou de um colega de trabalho. Por tudo isso, esteja atento. Olhe ao redor e descubra se você, com sua atitude, não pode fazer a grande diferença na vida de alguém. Redação do Momento Espírita, com base no cap. 20, do livro A roda da vida, de Elisabeth Klüber-Ross, ed. Sextante.

DAR AMOR

O panorama do mundo, neste início do Terceiro Milênio, não é maravilhoso. Há milhões de pessoas que estão passando fome. As guerras continuam devastadoras. Os homens disputam pedaços de terra, que chamam de territórios, como se fossem viver para sempre em cima deles. E cada pedacinho fica manchado com o sangue de muitas vítimas. Há milhões de pessoas sem um teto. Milhões que sofrem de AIDS. Milhões de crianças, adultos e velhos que sofreram e sofrem violência. Milhões de pessoas que padecem de invalidez, seja por terem nascido com a deficiência ou por terem sido vítimas de enfermidades, acidentes ou combates. Todos os dias, em todo o mundo, mais alguém está clamando por compreensão e compaixão. Este é o mundo que recebemos do milênio passado. O mundo que construímos. Agora nos compete construir o mundo renovado do Terceiro Milênio. Escutemos o som das vozes de todos os que padecem. Escutemos como se fosse uma cantiga, um mantra que suplica auxílio. Abramos os nossos corações para todos os que estão precisando e aprendamos que as maiores bênçãos vêm sempre do ajudar aos outros. Acima de pontos de vista econômicos, de crença religiosa, de cor da pele, aprendamos que todos somos filhos do mesmo Pai e nos encontramos na mesma escola: a Terra. Por isso o auxílio mútuo é dever de todos. Podemos não resolver os problemas do mundo, mas resolveremos o problema de alguém. Não podemos resolver o problema da AIDS, mas podemos colaborar valorosamente nas campanhas de esclarecimento às novas gerações. Não podemos diminuir as dores de todos os pacientes, mas podemos colaborar conseguindo a medicação precisa para um deles, ao menos. Com certeza, não podemos devolver mobilidade a membros paralisados. Mas podemos nos tornar mãos e pernas, auxiliando aqueles que precisam. Podemos não resolver o problema da fome no mundo, mas podemos muito bem providenciar para que quem esteja mais próximo de nós, não morra à míngua, providenciando-lhe o alimento ou o salário justo. É muito importante aprender a gostar de tudo o que fazemos. Podemos ser pobres e nos sentir sozinhos. Podemos morar em um local não muito agradável, mesmo assim, ainda poderemos colocar flores nos corações e nos alegrar com a vida. Tudo é suportável quando há amor, único sentimento que viverá para sempre. * * * O amor é a virtude por excelência, seja na Terra, seja em outras moradas do Senhor. O equilíbrio do amor desfaz toda discriminação, na marcha que realizamos para Deus. Exercitando o amor conjugal, filial, paternal ou fraternal busquemos refletir, mesmo que seja à distância, o amor do nosso Pai, que a todos busca pelos caminhos da evolução. Vivamos e amemos, de forma equilibrada, sentindo as excelsas vibrações que vertem de Deus sobre as necessidades do mundo. Redação do Momento Espírita, com base no cap. 40, do livro A roda da vida, de Elisabeth Kübler-Ross, ed. sextante e no cap. 2, do livro Vereda familiar, pelo Espírito Thereza de Brito, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter.