domingo, 27 de fevereiro de 2011

APESAR DOS LIMITES




No tempo em que ainda era um simples estudante de Medicina, numa Universidade do Meio Oeste dos Estados Unidos da América, Dr. Marlin nutria a estúpida preocupação com um mundo cheio de pessoas aleijadas e de doentes sem esperança de cura.

Por essa razão, era partidário da eutanásia e da eliminação dos portadores de deficiência física.

Moço e irreverente, costumava travar calorosas discussões com os colegas que pensavam de maneira diferente da sua.

Aos seus inflamados argumentos, os companheiros respondiam:

Mas, então, você não vê que nós estamos aqui, estudando Medicina, precisamente para cuidar dos aleijados, dos coxos e dos cegos?

Os médicos existem neste mundo para curar os doentes, era sempre a resposta que ele dava. E, se nada pudermos fazer em seu benefício, o melhor para eles é a morte.

No entanto, uma noite, quando prestava serviço como interno de Hospital, no último ano do curso, Marlin foi chamado para assistir a uma parturiente, imigrante alemã, que morava num bairro miserável da cidade.

Era o décimo filho que a pobre mulher dava à luz e o bebê entrou neste mundo com uma das perninhas bastante mais curta do que a outra.

Antes de fazer com que a criança pudesse respirar por si mesma, acudiu-lhe um pensamento:

Que despropósito! Este pequeno vai passar a vida inteira arrastando esta pobre perna.

Na escola será vítima de chacota dos outros meninos, que o chamarão "manco".

Para que hei de obrigá-lo a viver? O mundo nunca dará pela falta dele.

Mas, apesar dos pensamentos, o garoto levou a melhor. O jovem médico não conseguiu deixar de insuflar o ar da vida naqueles pequenos pulmões, pondo-os a funcionar.

Cumprido o dever, o interno agarrou a maleta do ofício e foi embora censurando o próprio procedimento: Não posso compreender por que fiz isto! Como se não houvesse filhos demais naquele antro de miséria. Não entendo porque deixei viver mais aquele e, ainda por cima, estropiado.

Os anos correram... O Dr. Marlin consagrou-se como médico e conquistou vasta clientela. As ideias que sustentava na juventude mudaram. Agora ele se dedicava a salvar e conservar vidas.

Um dia, seu filho único e a esposa morreram num acidente de automóvel e Marlin tomou a filha do casal para criar.

Amava com todas as forças a netinha Bárbara.

No verão em que completou dez anos, a menina acordou, certa manhã, queixando-se de torcicolo e de dores nas pernas e nos braços...

Pensou-se que fosse poliomielite, a temível paralisia infantil, mas depois verificou-se que era uma raríssima infecção causada por vírus pouco conhecido, que também causava paralisia.

O Dr. Marlin reuniu vários neurologistas e todos foram unânimes em afirmar que não se conhecia remédio nem tratamento algum para aquela enfermidade.

Em todo caso, existe um médico no Oeste, homem moço, que escreveu recentemente sobre o êxito que tem obtido em casos como este, observou um dos neurologistas.

O Dr. Marlin não teve dúvidas. Tomou a neta e se dirigiu para o hospital indicado.

Quando ficou frente a frente com o médico, único capaz de salvar a neta tão querida, o Dr. Marlin observou que o jovem colega coxeava acentuadamente...

Esta perna curta faz de mim um igual dos meus doentes, observou o Dr. T. J. Miller, ao notar o olhar do Dr. Marlin. Consinto que as crianças me chamem de "manco" e elas adoram isso.

De fato, prefiro esse nome ao meu nome real, que é Tadeu, e sempre me pareceu um tanto pomposo e ridículo! Como a tantos outros meninos, deram-me o nome do moço interno que uma noite me ajudou a vir ao mundo...

O Dr. Tadeu Marlin empalideceu e engoliu a seco. Por alguns minutos lembrou-se dos pensamentos que lhe acorreram naquela noite distante: O mundo nunca dará pela falta dele.

Estendeu comovidamente a mão ao jovem colega, o coxinho devotado, graças a quem a neta ia poder andar, outra vez, e pensou consigo mesmo: Em todo caso, sempre é melhor ser coxo do que cego, como eu fui, por muito tempo.

Redação do Momento Espírita adaptado de Seleções Reader’s Digest, de fev/1948.
Disponível no livro Momento Espírita, v. 3, ed Fep.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

ESCOLA DA VIDA




O pedagogo francês Allan Kardec afirmava que educar é a arte de formar caracteres. O conceito, embora sintético, traduz toda a complexidade da atividade de educar.

A ação de educar, no sentido amplo da palavra, que vai muito além do instruir, exige o esforço e a dedicação aplicados ao longo do tempo, em um processo contínuo e perseverante.

Será na observação e nos pequenos detalhes que a educação, que a formação do caráter se construirá. E o bom educador estará sempre atento aos passos do seu tutelado.

Porém, não é só na escola que nos educamos. E não são somente as crianças que precisam aprender algo.

Com cada um de nós se passa da mesma forma. Estamos todos no processo educativo, de aprendizado, para conhecer e entender as coisas de Deus, por toda a nossa vida.

Reencarnamos para, a cada experiência terrena, aprender um tanto mais, insculpindo em nossa intimidade o bem e a felicidade.

Mas, para isso, é necessário que passemos pelo processo do aprender, do educar-se.

Afinal, ninguém saberá ler sem o esforço inicial de conhecer o alfabeto, assim como ninguém será versado na matemática, sem o exercício contínuo de manipular os números.

Desta forma, as experiências na Terra sempre trazem consigo o convite ao aprendizado. E para que esse aprendizado aconteça é necessário que entendamos o que a vida nos propõe.

Algumas vezes, a doença desafiadora é o convite da vida para aprendermos a fé e a coragem.

Em outro momento, será a dificuldade financeira a nos ensinar a perseverança, a honestidade, a honradez.

Haverá momentos onde o parente difícil, o cônjuge exigente serão os caminhos que a vida oferecerá para o aprendizado da paciência, da humildade, da compreensão.

As discrepâncias sociais, o desequilíbrio econômico, que geram a miséria e a penúria, serão para nós o aprendizado da solidariedade e da generosidade.

A morte do ente querido, que retorna ao mundo espiritual apartando-se momentaneamente de nós, nos oferece a chance de aprendermos a resignação e a obediência frente aos desígnios da vida.

E as querelas e relacionamentos difíceis no trabalho e no ambiente familiar sempre oportunizarão o aprendizado da benevolência e do perdão.

Por isso, percebamos que a vida será sempre rica em oportunidades, qual uma escola a funcionar todos os dias, com os mais variados professores a nos oferecerem as lições necessárias.

E é Deus, como Pai amoroso, quem cuida do processo de aprendizado de cada um de nós, oferecendo-nos aquilo que melhor nos cabe, no momento mais adequado.

Assim, se as lições da vida baterem à nossa porta, algumas vezes desafiadoras, não temamos nem nos desesperemos.

Confiemos em Deus, o educador maior de todos nós, e apoiemo-nos Nele, através da oração, para que possamos melhor nos conduzir frente às lições.

Assim procedendo, os aprendizados se farão mais efetivos, e mais breves serão as estradas que nos levarão à felicidade e à paz daqueles que já conhecem e agem de acordo com as Leis de Deus.



Redação do Momento Espírita.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

POR QUE ESTAMOS NA TERRA?



Você já se perguntou, algum dia, por que é que você nasceu? Por que veio ao mundo?

Cada um de nós traz uma missão para cumprir. Existem aqueles que logo a descobrem e se esmeram no cumprimento dela.

São os gênios, que cedo despertam e atraem para si os olhos do mundo: pintores, músicos, literatos, homens de ciência.

Outros demoram um tempo mais longo para se darem conta do que devem fazer. Alguns nunca chegam a descobrir que nasceram para realizar algo especial.

Esse algo especial pode ser se tornar pai, ou mãe, ter filhos, educá-los, transformando-os em homens de bem.

Quando, por exemplo, assistimos a um espetáculo musical e nos encantamos com a voz de uma cantora, já não nos ocorreu pensar em quem são seus pais? Como a educaram?

Terão percebido, desde cedo, o maravilhoso dom da filha e se esmeraram em lhe propiciar as melhores oportunidades para desenvolvê-lo?

E, concluímos: eles cumpriram sua missão. Aí está sua filha, emocionando corações, enchendo de sons o mundo, encantando plateias, com sua extraordinária voz.

Quando lemos trabalhos científicos ou filosóficos e nos admiramos com o saber ali contido, fruto de mentes de valor, pensamos em que essas criaturas vieram ao mundo para o tornarem melhor.

E estão cumprindo a sua missão, espalhando, com suas teses, suas teorias, seus escritos, suas conferências, as boas ideias, auxiliando a construir o homem renovado. Auxiliando-o a viver melhor.

Quando descobrimos um professor dedicado ao ensino, muito além do dever, pensamos: essa deve ser sua missão!

E como ele a está cumprindo, com honra!

Então, em certos dias, olhamos para nós mesmos, analisamos os anos vividos, os que nos faltam ainda a vencer e nos indagamos: Afinal, porque eu nasci?

Nada fiz ou faço de excepcional. Tenho um diploma, um emprego, sustento-me. Mas, por que estou aqui?

Nada faço que possa melhorar a vida de alguém. Não sou excepcional em nada. Talvez, até, não passe da média.

É nesses momentos que nos devemos recordar de um jovem apaixonado pela verdade que defendia.

Ele crescera, preparando-se para assumir um posto de destaque entre os seus. Seria um rabino. Em verdade, substituto do grande e respeitado Gamaliel.

Contudo, um dia, recebeu um chamado especial. Ele não saberia definir se a voz vinha de fora ou se soava dentro do seu coração.

Mas foi o suficiente para o jovem Saulo indagar: Senhor, que queres que eu faça?

E dali em diante, tornou-se a vontade do suave Pastor na Terra ao ponto de, em determinado momento de sua vida, assim se expressar:

Já não sou quem vive. É o Cristo que vive em mim.

À semelhança do jovem de Tarso, é bom meditemos, vez ou outra, nos indagando: Por que eu estou aqui? Que devo fazer?

E se permitir ouvir a resposta.

Logo identificaremos que temos algo muito importante a fazer: crescer, progredir, melhorarmo-nos.

E, realizando essa proeza, a cada dia, verificaremos que estaremos colaborando para a implantação mais breve do mundo renovado.

Um mundo de paz, de bênçãos, de trabalho, de harmonia.

Pensemos nisso.



Redação do Momento Espírita.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

TUDO ESTÁ CERTO



Conta uma antiga lenda norueguesa que um homem cuidava com muito zelo de uma capela, num distante povoado.
Haakon era seu nome e via, todos os dias, muita gente adentrar a ermida e orar, com devoção, frente a uma cruz muito antiga.
Certo dia, Haakon, impulsionado por um sentimento de generosidade, ajoelhou-se diante da cruz e fez uma oferta ao Crucificado.
Senhor, desejo padecer por Vós. Deixai-me ocupar o Vosso lugar.
O Senhor da cruz abriu os lábios e falou:
Amigo, posso atender a tua rogativa, mediante uma condição.
Qual é, Senhor? Será uma condição muito difícil? Estou disposto a cumpri-la.
Então, lhe disse o Cristo:
Escuta-me. Aconteça o que acontecer, não importa o que vejas, terás que guardar sempre absoluto silêncio.
O homem, resoluto, respondeu:
Eu prometo, Senhor!
Fizeram a troca sem que ninguém viesse a perceber. O tempo passou e aquele que substituía o Crucificado conseguia cumprir o seu compromisso de sempre se manter calado.
Um dia, porém, um rico foi até a capela orar. Ao sair, esqueceu a sua bolsa sobre um dos bancos.
Haakon viu e se calou. Também não disse nada quando, umas duas horas depois, alguém que também viera orar, encontrou a bolsa e a levou para si.
Ainda ficou calado quando um rapaz veio pedir as graças dos céus antes de empreender uma longa viagem.
Contudo, o rico retornou em busca do que esquecera.
Como não encontrasse sua bolsa, pensou que o rapaz se teria apropriado dela. Voltou-se para ele e o interpelou, com raiva, exigindo que lhe devolvesse o que lhe pertencia.
Não peguei nenhuma bolsa! - Defendeu-se o jovem.
Mentiroso! - Gritou o homem rico. E arremeteu furioso contra ele, no intuito de agredi-lo.
Então, uma voz forte soou:
Para!
E a imagem falou, defendendo o jovem e censurando o rico pela falsa acusação.
Este saiu aniquilado do local. O jovem, porque tinha pressa para empreender a sua viagem, saiu logo em seguida.
Quando a ermida ficou vazia, Jesus dirigiu-Se a Haakon e lhe disse:
Desce da cruz. Não serves para ocupar o meu lugar. Não sabes guardar silêncio.
E, ante as justificativas do servidor, trocaram de lugar, concluindo o Cristo:
Tu não sabias que era conveniente para aquele homem perder a bolsa que trazia o preço de muita maldade.
Quanto ao rapaz, que iria receber alguns golpes, as suas feridas o teriam impedido de fazer a viagem que, para ele, foi fatal.
Faz uns minutos seu barco soçobrou e ele se afogou.
Tu não sabias, mas eu sabia. Por isso, eu sempre me calo.
* * *
Toda vez que acreditares que as tuas preces não foram ouvidas porque não foram atendidas, pensa que tudo está certo.
Logo mais ou um pouco depois descobrirás que Deus estava certo em Se manter silente.
Tenha certeza: nada te acontece que não seja o melhor para ti, naquele momento. Isso porque Deus nunca Se engana.

Redação do Momento Espírita, com base em lenda norueguesa.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A MORTE CHEGA PARA TODOS



Você já percebeu que, sempre que o noticiário nos mostra as tragédias do mundo, acreditamos que nada semelhante jamais nos atingirá?

Já se deu conta de que, normalmente, partilhamos a ideia de que o mal somente chegará à casa do vizinho?

Com esses conceitos, vivemos despreocupados. Nem sempre utilizamos a prudência que nos seria devida para nos furtarmos de certos acontecimentos inconvenientes.

Quando a morte ronda os lares, continuamos a acreditar que o nosso está protegido dessa megera terrível.

Por isso, quando ela chega, é sempre uma surpresa para nós.

Mas, ninguém foge à morte. E seria importante que, a respeito dela, meditássemos um pouco a cada dia.

Recordamos que, depois do término da Segunda Guerra Mundial, morreu a amada irmã de Albert Einstein.

Ele havia estado com ela, dias antes de sua morte.

Ambos estavam abatidos e doentes. Albert tinha recebido o diagnóstico de um aneurisma abdominal da aorta. Tivera uma crise e, com fortes dores abdominais, ficara internado no hospital para longo tratamento.

Brincando, ele havia dito à irmã:

Creio que enfrentarei a grande jornada para o espaço, antes de você, querida Maja. Por isso, estou aqui para as despedidas.

E Maja respondeu:

Não, meu querido irmão, partirei antes. Em sonho recente, vi nossos pais. Entendi, por sinais feitos pelas mãos de nossa mãe, que a partida seria logo.

Albert a abraçara, falando ao seu ouvido:

Seja como for, sinto que em breve nos encontraremos.

Recebendo, agora, a notícia da morte da irmã, olha o Infinito e fala baixinho:

Que Deus a abençoe! Como disse a você, em breve nos encontraremos.

Nem raiva, nem desespero. Atitude de quem tinha a certeza da Imortalidade.

Continuou a trabalhar. Mesmo com suas dores, ele não se deixava vencer.

Recebia amigos, viajava, proferindo palestras sobre suas teorias e respondia a todas as perguntas que os jornalistas lhe faziam.

Com o rompimento do aneurisma abdominal, agrava-se seu quadro anêmico. Em 18 de abril de 1955, a 1 hora e 15 minutos da madrugada, Albert Einstein morre, em Princeton, Nova Jersey.

Ele providenciara seu testamento, legando seus inventos e documentos científicos, já provados ou não, à Universidade de Jerusalém.

Sabia que a morte o rondava. Preparou-se para recebê-la, mantendo-se ativo e sereno.

Ele tinha a certeza da Imortalidade.

* * *

Conforme seu pedido, o corpo de Albert Einstein foi cremado e suas cinzas espalhadas em local ignorado.

Ele doou seu cérebro a Thomas Harvey, patologista do Hospital Princeton.

Esse fato causou profundo abalo no meio dos físicos e intelectuais filosóficos.

Mas era preciso respeitar o desejo do maior conhecedor em cálculos matemáticos e das teorias sobre Física.



Redação do Momento Espírita, com base em dados biográficos de Albert Einstein.
Disponível no livro Momento Espírita, v. 8, ed. Fep.